sábado, 7 de junho de 2014

"O Medalhão e a Adaga": mágica aventura com os Arqueiros Sagrados [10 pontos positivos e 10 negativos]


Foi com prazer que recebi há umas semanas pelo correio o livro de Samuel Medina “O Medalhão e a Adaga”, meu colega escritor na Editora Andross (onde publicamos contos em antologias) e também na Editora Multifoco (onde publicamos nossos respectivos romances).
Devo confessar que, em agosto passado, quando ganhei dele um marcador de página que divulgava seu livro, fiquei curioso e interessado pelo livro. Havia um ar de mistério, de magia, de aventura nessa história. Pois pude enfim tirar minha curiosidade por esta leitura nas últimas semanas, quando tive a oportunidade de receber e ler esta publicação!
Vou buscar ser equilibrado nesta resenha e ressaltar tanto pontos que identifiquei como positivos como os negativos. Farei um sanduíche: pontos positivos no início e no final, com pontos negativos no meio deste meu texto, sempre na minha humilde opinião, claro.

Lá vão então alguns pontos que curti:
1.1) A relação entre os protagonistas, o garoto Bildan e a garota Sheril, é muito interessante. Na verdade, apenas Bildan deve ser o protagonista pra valer, mas considero Sheril uma segunda protagonista, tal é sua importância na história desde que ela aparece. Pois bem, a relação deles seria teoricamente de parceria meio contra à vontade, por “missão”; e depois é indicada como amizade. Além disso, há vários momentos em que se sugere a possibilidade de algo mais romântico, com um ciúme (até agressivo) da garota pelo moço aqui, um achar bonita ali...
1.2) A mistura mitológica foi curiosa. O autor fez questão até de incluir elementos brasileiros, como saci, mula-sem-cabeça (inclusive tratada de forma extremamente assombrosa e reverente) e curupira.
1.3) Negros: A criação de certas classes de personagens com status elevado, especialmente os tais Arqueiros Sagrados chamou a atenção, inclusive por o primeiro que Bildan conhece é um negro (e isso ainda por cima parece ser algo comum nesse cenário; quando não são negros, têm pele mais escura de algum modo também). Isso me pareceu bonito no texto, considerando o histórico de exclusão e estigma que os negros têm em nosso mundo.
1.4) Achei bacana isso de os tais Arqueiros Sagrados serem a classe de mais status. Não me lembro de o arco e flecha ter essa distinção em outros universos, excetuando-se talvez por Robin Hood. Mas ainda assim, era só ele. Além disso, eles usavam magia, e de vários tipos; também conversavam com os animais. Curiosos mesmo esses guardiões que o Medina inventou, um misto de druidas, elfos, guerreiros e magos. Rs.

Agora, alguns pontos negativos:
2.1) Faltou revisão no livro. Encontrei cerca de 15 páginas com erros, seja por palavras mal colocadas ou sem sentido e erros gramaticais. Encontrar esses problemas infelizmente causa uma sensação ruim e desvia a atenção da história.
2.2) Faltaram ilustrações. Hehe. Tô meio brincando, mas um livro desses me parece “pedir” por elas! Numa próxima edição, quem sabe o autor não me contrata? ;)
2.3) Mitos fora de lugar? Saci, mula-sem-cabeça. Apesar de eu apreciar a inclusão brasileira, parecem elementos do folclore brasileiro enfiados em um outro universo, inclusive linguístico, pelos nomes dos personagens, que não parece ter a ver com eles. O tipo de linguagem utilizada me lembrava raízes europeias. Eu ficaria mais contente se o autor não tivesse usado os nomes e características literalmente de nossos mitos e de outros, mas tivesse inventado outros nomes para compor seu universo.
2.4) Sinto ter faltado mais encaixe, encadeamento entre uma aventura e outra. Às vezes senti falta disso. Como quando o garoto resolve que desejaria ir em busca de uma certa floresta, após largar o trabalho em que estava. Tem vezes que a justificativa não me convencia. Em muitos casos, me parecia haver falta de "cimento" na narrativa, para me convencer do que estava acontecendo.
2.5) Aqui aparece o clichê do protagonista órfão envolto por aventuras; além de que depois ele é considerado como “O Escolhido”.
2.6) Senti falta de melhor precisão no mapa oferecido, delimitando-se melhor os territórios... Sequer entendi alguns símbolos lá presentes.
2.7) Novamente, achei que também não me convenceram algumas situações, agora soluções, como o modo como Bildan se safa de um gigante num castelo... Não importa o quão fantástico algo seja, é claro, contato que se convença o leitor de que aquilo é possível.
2.8) Datini, um novo aliado que aparecerá para Bildan, não me convenceu tanto na forma com que se juntou ao grupo do protagonista...
2.9) Não vi lá tanta utilidade para a “adaga” do título. O medalhão, ok, como símbolo de identificação de certa estirpe... Mas seria legal se a adaga fosse útil para além das brigas a que serviu no início.
2.10) Pô, o livro termina deixando uma grande margem para continuação... Mas cadê ela? Hehe. Espero que o autor já tenha deixado tudo muito bem planejado!

E aqui termino os pontos que me agradaram:
1.5) Os diálogos foram legais. Nem sempre, mas frequentemente eu sentia naturalidade neles. Inclusive o jeito de escrever “errado” algumas palavras ajudavam a mostrar a falta de instrução ou informalidade no falar de alguns personagens. Ou uma palavra típica de algum deles, como o “curió” do rival Dalvec.
1.6) Foi muito bonita a surpresa que o final nos reserva quanto a este rival do protagonista.
1.7) A parceira do protagonista, Sheril, me encantou. Muito mais que Bildan, aliás. Bildan é bobo, devagar, ela é esperta, dinâmica, admirável. Se houver mesmo uma continuação do livro, ou um outro livro nesse universo, eu preferia que se centrasse nela, não no garoto. Ele não me pareceu tão interessante, cativante, com força de presença como ela.
1.8) A cena noturna de terror das Damas da Noite e do Senhor da Bruma foi assombrosa. Curti.
1.9) O título, apesar do citado anteriormente, foi legal. Pegou dois detalhes-símbolos importantes para o garoto protagonista e deixou no ar.

1.10) Foi um belo rival do início, o Dalvec. Deu raiva dele e das situações em que ele botava o protagonista. 

Bem, foi um prazer mesmo ler um livro de um autor que conheço pessoalmente. Tenho achado isso de um valor e honra muito grande. Escrever um livro inteiro é realmente um grande desafio, como pude comprovar. 
Também foi esquisito ler um livro de fantasia depois de tanto tempo. Ele lembrar muito algo como Senhor dos Anéis, e as aventuras de RPG que eu joguei muito quando adolescente. Com seu próprio jeito, é claro; então parecia um pouco repetitivo, não tenho certeza o quanto faltou o livro buscar maneiras mais originais de contar uma história. É engraçado pensar que sempre me considerei curtindo mais histórias de fantasia... Mas não sei se me identifiquei tanto com essa história em si. Mesmo assim, talvez ela me ajude a retornar empolgado a esse mundo. 
É claro, o toque geral da história dava a impressão de algo mais infanto-juvenil também. Talvez eu não deva levá-la assim tão a sério, e considerá-la tranquilamente como parte de um gênero de aventuras de fantasia medieval, com a nova possibilidade de contar a história que Samuel Medina teve vontade e esforço de contar.
Devo também dizer que, apesar de o início da história não ter me cativado tanto, até por as situações que o protagonista vivia estarem meio paradas mesmo (e o próprio estar se sentindo entediado), a partir daí a coisa foi melhorando e fui ficando muito interessado em prosseguir a leitura. Em cada intervalo do trabalho que eu tinha e após sair no fim do dia, eu ficava ansioso por seguir na leitura! :)

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