sábado, 24 de abril de 2010

Poema: Bola de Gude







Um dia fui parar em Londres

Daquelas que temos na imaginação

Cheias de névoas e edifícios clássicos

Edifícios que parecem castelos --como são mesmo, eu vi!


Meus óculos ficaram embaçados com esse fog, essa neblina

Eu tentei limpar, mas não consegui.

Limpei muitas vezes, mas meus descolados óculos

Azul e laranja

Não paravam de embaçar.


Eu me lembrei que na infância,

Antes dos meus 12 anos,

Óculos não usava não.


Assim, fui depois parar na papelaria,

Daquelas da infância,

Onde a gente compra todo tipo de papel que a professora pede

Pras atividades de escola.

Eu moleque como era (e precisa ser uma criança)

Fui correndo na frente do vendedor

Derrubei a estante de papéis

E o celofane transparente caiu sobre mim também.


Assim, equipado pras minhas artes,

Não tive dúvidas, só faltava

Um doce ar de natureza.

É assim que o doce das abelhas me atraiu.

Favos de mel: é só o que vejo agora.


Natureza não existe

Só em florestas e campinas e montanhas

Minha natureza: é ser diferente

Em tudo o que puder.

É isso o que me faz autêntico,

Até uma brincadeira fora do lugar.


Nunca fui de me divertir tanto

Com jogos do tempo do papai e do vovô

Livro TV e videogame era meu costume

Em tempo de criança.


Pipa, onde está?

Voou, voou.

Bolas, onde estão?

Rolaram, rolaram.

Mas tudo para bem longe da minha mão.


Um homem no entanto não pode ficar sem

Certos instrumentos que o compõem assim.

A bola de gude que eu joguei fora

E que aparecia só em livros de história

Voltou pra bem perto de minha mente.


Sem saber como ela voltou, ou talvez estivesse sempre lá.

Como se querendo que eu lembrasse

Do meu destino de criança sapeca

Que precisa brincar até virar adulto

E não perder graça e vontade de rir.


Natureza não existe

Só em florestas e campinas e montanhas

Minha natureza: é ser diferente

Em tudo o que puder.

É isso o que me faz autêntico,

Até uma brincadeira fora do lugar.


24/04/10 – 3h26

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Animau,


Estou aqui com um fog na alma diante de sua desdita.

Que esta sombria bolinha de gude retorne para onde nunca deveria ter saído!


Um abraço,

Cláudio