quinta-feira, 29 de abril de 2010

Livros pra ouvir: inglês e português

Uma boa ideia para quem tem ou está com dificuldades de leitura é ouvir livros. Sim, existem os audiolivros, que você pode ouvir até em seu MP3 player.

No entanto, várias das melhores obras e sites-projetos de narrações de livros que encontrei são de livros em inglês.

Para os brasileiros, isso restringe um tanto a quem entende bem inglês, claro. Para quem entende mais ou menos... Vale o esforço para treinar!

Há também livros lidos em português, mas boa parte deles são pagos, ou não tenho interesse neles, ou são piratas (não vou indicar nenhum destes por aqui, eheh).

Projetos em obras em inglês

Os melhores projetos/sites em inglês são dois: Librivox e Free Classic Audio Books.

Ambos são ótimos. O Librivox é mais estruturado, com políticas de voluntariado transparente, e com mais de 3.000 livros publicados. Pesquise e veja (e ouça!) se encontra algo que você goste nessa infinidade de livros.

Neste primeiro, encontrei:

- Vários contos de Sherlock Holmes;
- Les Misèrables (Os Miseráveis), de Victor Hugo, em francês e inglês, bela iniciativa social que mostra e questiona a situação dos pobres;
- A Divina Comédia, de Dante Alighieri, clássico italiano gigante sobre uma jornada pelo inferno até o Paraíso;
- E ainda 1.001 Noites, a longa sequência de histórias árabes que entrou pra valer no imaginário ocidental, e que gira em torno da esperta Sherazade e do rei Shariah.

O Free Classic Audio Books tem a vantagem de mostrar logo de cara quais são suas quase 30 obras oferecidas, em 3 páginas (sem ter que ficar pensando qual procurar). Tem um visual mais amador, com vários anúncios do Google Adsense em volta, além de anúncios para obras pagas a US$ 10. Pode valer a pena também.

Veja quais achei bacanas lá:

- War of the Worlds (Guerra dos Mundos), de George Orwell, que assustou muita gente achando que havia uma real invasão de ETs;
- Alice in Wonderland (Alice no País das Maravilhas), do Lewis Carrol, super na moda atualmente, agora que o filme estreou;
- Romeu e Julieta, o clássico mais que romântico e trágico de William Shakespeare;
- Sonetos de Shakespeare, para quem ainda não se cansou dele;
- Robinson Crusoe, de William Defoe, bela e clássica história de aventura do náufrago;
- Pride and Prejudice (Orgulho e Preconceito), de Jane Austen, clássico precursor da "literatura feminina" ou algo do tipo (precioso de minha querida )
- Frankenstein, de Mary Shelley --muita gente conhece derivados mas não o original.

Em português

Tem o site da Universidade Falada, com vários livros em português à venda. Entre uns legais que achei nessa categoria, tem uns do Sherlock Holmes, como o pioneiro Estudo em Vermelho.

Também tem uns nesse site, bem poucos e a maioria chatos, gratuitos. Um que pareceu melhor éABC dos Mitos. Mas tem que se cadastrar pelo visto para baixar.

Ouvi de outro lugar dois livros espíritas, o "Nosso Lar", que seria a narração de um espírito sobre como é a vida e organização sócio-econômica depois da morte; e o "Livro dos Espíritos", com várias perguntas e respostas sobre a doutrina espírita.

(Infelizmente não acho os links desses dos que baixei; só que foi chato demais ouvir o "Nosso Lar" com voz automática de software gerador de áudio, tome cuidado com esses áudios.)

O site da BibVirt também disponibiliza vários livros clássicos em português, daqueles que se transformaram em chatice pra gente especialmente por ser "livro de escola" ou "de vestibular". Em todo caso... esse site está agora em manutenção.

sábado, 24 de abril de 2010

Poema: Bola de Gude







Um dia fui parar em Londres

Daquelas que temos na imaginação

Cheias de névoas e edifícios clássicos

Edifícios que parecem castelos --como são mesmo, eu vi!


Meus óculos ficaram embaçados com esse fog, essa neblina

Eu tentei limpar, mas não consegui.

Limpei muitas vezes, mas meus descolados óculos

Azul e laranja

Não paravam de embaçar.


Eu me lembrei que na infância,

Antes dos meus 12 anos,

Óculos não usava não.


Assim, fui depois parar na papelaria,

Daquelas da infância,

Onde a gente compra todo tipo de papel que a professora pede

Pras atividades de escola.

Eu moleque como era (e precisa ser uma criança)

Fui correndo na frente do vendedor

Derrubei a estante de papéis

E o celofane transparente caiu sobre mim também.


Assim, equipado pras minhas artes,

Não tive dúvidas, só faltava

Um doce ar de natureza.

É assim que o doce das abelhas me atraiu.

Favos de mel: é só o que vejo agora.


Natureza não existe

Só em florestas e campinas e montanhas

Minha natureza: é ser diferente

Em tudo o que puder.

É isso o que me faz autêntico,

Até uma brincadeira fora do lugar.


Nunca fui de me divertir tanto

Com jogos do tempo do papai e do vovô

Livro TV e videogame era meu costume

Em tempo de criança.


Pipa, onde está?

Voou, voou.

Bolas, onde estão?

Rolaram, rolaram.

Mas tudo para bem longe da minha mão.


Um homem no entanto não pode ficar sem

Certos instrumentos que o compõem assim.

A bola de gude que eu joguei fora

E que aparecia só em livros de história

Voltou pra bem perto de minha mente.


Sem saber como ela voltou, ou talvez estivesse sempre lá.

Como se querendo que eu lembrasse

Do meu destino de criança sapeca

Que precisa brincar até virar adulto

E não perder graça e vontade de rir.


Natureza não existe

Só em florestas e campinas e montanhas

Minha natureza: é ser diferente

Em tudo o que puder.

É isso o que me faz autêntico,

Até uma brincadeira fora do lugar.


24/04/10 – 3h26

terça-feira, 13 de abril de 2010

BBB transforma ditador assassino de "1984" em diversão


Estou lendo, na língua original (eba!), o livro "1984", de George Orwell. Há tempos queria ler, como obra de fato clássica, consagrada. Mas não imaginava que seria mesmo tão forte e pertinente aos dias atuais.

É claro, todo brasileiro hoje conhece o programa "Big Brother Brasil", ou "BBB". Eu sabia mais ou menos que o livro inspirou esse tipo de programa, dito reality show. Mas não sabia que havia referências tão diretas.

A começar pelo nome. "Big Brother" (Grande Irmão, em tradução literal) é exatamente o nome do poderoso ditador que tudo sabe e tudo vê, no livro "1984".

Há também as câmeras. Claro, é isso o que primeiro nos vem à mente quando pensamos em reality show. Pessoas sendo filmadas o tempo todo.

Privacidade

Vamos a uma diferença:

No jogo-programa BBB, tem trocentas pessoas que se inscrevem, tanto desejando virar celebridades como querendo ganhar o R$ 1 milhão oferecido ao vencedor. Elas têm o livre-arbítrio de se submeter às câmeras.

Na sociedade descrita por Orwell, não há essa escolha. Todos são filmados o tempo todo. O protagonista até mesmo se surpreende quando encontra um cantinho que as câmeras não parecem alcançar.

(Aliás, isto me lembra uma discussão em uma disciplina de pós em Filosofia: quanto mais as pessoas exigem segurança, menos privacidade parecem ter, com as câmeras e tal. É mesmo uma tendência. Como será que essa sociedade de "1984" foi se formar, heim?)

Acusações

Outro paralelo é o de acusações e ataques mútuos. No jogo BBB, os tais paredões definem quem vai sair, quem vai ficar. Para isso, há votação do público, mas há também antes votos (negativos) entre os próprios participantes.

No livro, há também acusações, que seriam correspondentes aos "votos" negativos no BBB (no programa, pela saída dos participantes para longe do sonho milionário).

Essas acusações em "1984" são bastante estimuladas entre os cidadãos. Até crianças são habituadas a fazê-las. Um denuncia o outro, especialmente por "crime de pensamento". Há até mesmo "crime de expressão facial".

Ou seja, o cidadão precisa mostrar que concorda com tudo que está no interesse do Partido (em cujo centro simbolicamente está o tal do Big Brother), que controla tudo.

[Repare a referência direta a países como a China, Cuba, Coreia do Norte e a Rússia na época da União Soviética.]

Se o cidadão não mostrar estar do lado do Partido, de sua causa, e além disso, não se mostrar empolgado com ele, festejando junto todas as suas conquistas... Ai dele.


Vapor ou fama

Ele pode ser muito bem vaporizado. O que seria isso? Não é apenas executado, como é comum em ditaduras da vida real. A criatividade de George Orwell chegou ao ponto de fazer com que, nesta sociedade, estes indivíduos indesejados fossem realmente apagados da História.

Depois de mortos, todos os registros destes indivíduos são apagados, de modo que pareça para as futuras gerações (ou mesmo para a geração presente, já que todo mundo parece esquecer das coisas beem rápido, por força maior) que eles nunca existiram.

Imagina só: além de você perder um ente querido, ainda por cima todas as fotos e lembranças que você pudesse ter dele também devem ser dizimadas.

Por outro lado, no BBB, ao invés de os eliminados do programa serem esquecidos... Pelo contrário, eles ganham um título de nobreza: "ex-BBB". Parece coisa de barão, duque, conde, etc., não? Aqui temos isso, a pessoa entra numa categoria à parte.

Não se identifica mais a pessoa por sua profissão antes do programa.

Como a dançarina Lia ou o personal trainer Cadu ou a dentista Fernanda, ou ainda o lutador Dourado (vencedor), ou seu rival, o maquiador Dicésar, no caso da na edição BBB10.

Após o programa, serão sempre chamados pela mídia de "ex-BBB".

E isso dá as garotas, normalmente, o benefício de posar nua para revistas. Ficam lá bem registradas, cada vez mais. Para não esquecer mais. Especialmente para os meninos procurando fontes de masturbação.

Para exemplificar, temos em abril na "Playboy" a Cacau, e no mês anterior a Tessália (à qual eu estava bem mais familiarizado, já que ela começou como celebridade do Twitter).

Poder


Também há outro ponto a se discutir aqui: o poder.

O poder do simbólico e misterioso Big Brother é total. Seria ele que tudo vê e etc. Mas nunca é visto. A quem podemos compará-lo no programa de TV, que atrai a atenção de tanta gente?

Ao telespectador, é claro. O público se sente na condição de poderoso (ao menos a ideia é essa). É ele que tem o privilégio de observar cada banal e rotineiro movimento e expressão dos participantes (e poderá ver mais ainda se você pagar pelo pay-per-view). E avaliá-los.

Não há muito critério para saber quem dos participantes ganha e quem não ganha. Isso sempre me irritou, essa coisa vaga, sem critérios objetivos na competição. Mas é assim: se você agradar ao público que está te assistindo, ótimo. Viu? É parecido com o universo do livro.

Com a exceção de que as regras são bem mais liberais, claro. Há festas, bebida, música, piscina, etc. no BBB.

Sexo

Vamos falar de sexo.

É bem comum que se formem casais no BBB. Mesmo quando a pessoa tinha namorado(a) lá fora. É tudo liberado. E o que rola debaixo do edredom então, é a maior atração.

Já em "1984", você não pode casar com alguém se tiver interesse sexual na pessoa. Imagina! Não se pode imaginar sexo com outra função que não gerar novos membros para o Partido.

O protagonista da história se lembra de sua esposa deste modo: extremamente leal ao Partido, parecia uma tábua, em termos de frieza sexual. Ela frequentemente o lembrava de fazer sexo, mas com o termo "nosso dever para com o Partido". E simplesmente tirava a saia, se deitava e abria as pernas.


Passado reformulado

Um ponto que me surpreendeu especialmente no livro de Orwell é o fato de ser normal que a História seja reformulada. Constantemente. Tudo no interesse do Partido/Big Brother. E para mostrar que seu governo é sempre melhor. E todos os cidadãos deveriam adorá-lo.

Suponhamos que os impostos sejam de 10% em 2009. E de 15% em 2010. Oras, para se mostrar que os impostos caíram, e assim as coisas vão cada vez melhor, basta alterar os registros históricos (e destruir e reimprimir cada notícia em revista e jornal que mencionava o fato, não sei como, mas é o que ocorre nesse universo).

Assim, altera-se o registro de 2009, e temos arquivado que o imposto era de 20% em 2009. Oras, como agora em 2010 é de 15%, é óbvio que o imposto caiu. Assim, cada cidadão só tem mesmo é que louvar e agradecer ao Big Brother e ao Partido.

Talvez isto pareça exagerado. Mas ilustra a falta de memória crônica de todos da vida real. O esquecimento constante. Não sei se farei ligações com BBB aqui, mas talvez com os políticos? Muito óbvio, ahahah.

O fato é que eu ao menos repito sempre os mesmos erros. E pareço sempre esquecer deles. Como é difícil parar de me agradar, conformado com a situação aparentemente bacana.

Câmeras são as redes sociais



Encerro chamando a atenção a um artigo que li na revista "Newsweek". Cuidado com os seus dados pessoais na internet.

Cada vez mais nós expomos toda a nossa vida pessoal na internet. Quem são nossos amigos, o que estamos fazendo neste momento, do que gostamos, etc.

Tudo isso é registrado por redes sociais como Orkut, Facebook e Twitter. Além do poderoso Google, é claro, que cada vez mais a tudo observa, a serviço do internauta.

A melhor metáfora da realidade mesmo é que as câmeras do BBB e de "1984" se transformaram em conexões da internet.

Essas redes sociais oferecem serviços de graça. Será que são assim tão boazinhas? Ou os seus dados pessoais valem mais do que você imagina?

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(Esta resenha foi produzida totalmente estimulada pelo Desafio Literário by Romance Gracinha. Pois é, é esse mesmo o nome, ai. Estou bem atrasado na publicação da resenha, que era pra março, por coincidência quando terminou o BBB10. Veja meu cronograma falhado.

Culpo parcialmente a Amazon, por ter demorado muuuito pra me remeter o livro em inglês. Pois é, fiz questão de ler no original, eheh.)