domingo, 21 de outubro de 2007

As diferentes idéias de ser "radical", e o caso do vegetarianismo

Uirapuru, em blog clone no Stoa USP, comentou meu post a respeito de ser possível "ser na direção" ao invés de "radical" ou "total". Ela acha que "ficar no meio do muro não dá certo". Enquanto isso, ontem mesmo conversei com um amigo cujo principal argumento para negar o vegetarianismo é justamente a idéia dele o vegetarianismo ser algo "radical", palavra que ele repetiu um monte de vezes. Por isso achei importante escrever este post de hoje.

Na verdade, sim, concordo com esta visitante. Eu acho que, se encontramos algo positivo para ir atrás, com várias evidências mostrando que é algo que traz benefícios tanto para mim como para os outros, se estiver ao meu alcance fazer isso corretamente, é melhor o fazer sim, sem "ficar em cima do muro", como você diz. E por isso é o que faço, como posso, no caso do vegetarianismo (ainda não sou vegano, que nem mesmo laticínios consome).

Diferentes significados

Mas então qual é o problema em ser "radical"? Há diferentes idéias de "radicalismo". A idéia que trabalho aqui é no seu sentido original, de "raiz", de ser "íntegro". No entanto, a idéia que se costuma utilizar é a de ser algo negativo, e até mesmo de maneira associada a terroristas. E lógico, longe de um pacifista que respeita a vida sensível cometer terrorismos...

Por isso não gosto muito de dizer a palavra "radical", porque as pessoas até costumam falar essa palavra para dar uma idéia negativa do que quer que seja. Mas, como eu disse, essa palavra vem de "raiz". Ou seja, ser radical, originalmente, não tem uma idéia negativa. Significa apenas cumprir com o devido cuidado certa atitude.

Arbitrariedade no uso negativo de "radical"

Agora, veja como as pessoas utilizam a palavra "radical" para certas coisas e para outras não. Os exemplos clássicos (de Tom Regan): Qual é sua opinião a respeito do estupro? E do assassinato de humanos? E do abuso de menores? Para não ser radical na atitude contra estes 3 pontos, você pode permitir que de vez em quando se estupre, se assassine pessoas e se abuse de menores? Creio que não, certo? Porque se acredita que isso é algo muito ruim mesmo!

Da mesma forma, os vegetarianos e defensores dos animais jamais permitem sofrimento de animais em geral que pode ser evitado. Porque acreditam que isso é algo muito ruim mesmo!

Ou seja, ser "radical" não é argumento para refutar o vegetarianismo, senão também poderíamos refutar outras questões básicas de direitos humanos. E lembrar sempre do que falei anteriormente, se não está ao seu alcance cumprir algo integralmente (com cujos benefícios você concorde), pelo menos cumpra um pouco.

Ser vegetariano não significa ser radical em si. O grau da atitude das pessoas em relação a algo pode variar. Como qualquer coisa, você pode, ao concordar com ela, segui-la direito ou segui-la mais ou menos. Isso se aplica a qualquer coisa: ter o hábito de tomar banho todo dia, escovar os dentes todo dia, etc...

3 comentários:

dani matielo disse...

Pessoalmente, meu problema com o chamado "vegetarianismo radical" é qu e ele parte de uma premissa com a qual eu não concordo: de que devemos respeitar os animais da mesma forma como respeitamos os seres humanos. Para mim, os seres humanos são uma espécie, os animais são outra. Temos que respeitar os animais pelo que eles são: animais. E não causar, como vc costuma dizer, mais sofrimento do que o necessário, principalmente porque esse sofrimento não está diretamente conectado com a nossa sobrevivência: poderíamos todos muito bem comer carne de vez em quando (como eu já escrevi), se não houvesse uma indústria e interesses políticos por trás do consumo e produção da carne.

O meu problema com o "vegetarianismo radical" é que na verdade acho que tira o foco do problema real: o consumo EXCESSIVO de carne, que causa uma porção de problemas no mundo todo - inclusive a crueldade com os animais. Eu acho que relativizar a questão não é "ficar em cima do muro". como você falou, mas aceitar que é plenamente possível querer resolver o problema sem que todas as pessoas simplesmente tenham que parar totalmente de comer carne. Seus exemplos de posturas radicais são interessantes, mas um pouco demagógicos no sentido de que todos tem exemplos com seres humanos. "Estupro", "Abuso de menores", "Assassinato de outro ser humano", são coisas relacionas a pessoas, e como eu já disse, somos espécies diferentes. A idéia de que temos que proteger os animais porque somos "superiores" me parece horrível, uma coisa que nos tira da natureza, como se não fizéssemos parte dela. Temos que cuidar dos animais porque precisamos zelar pela nossa sobrevivência, e acho que não temos o direito de fazê-los sofrer mais do que o necessário para que isso aconteça... mas matar um coelho para alimentar uma família não é a mesma coisa que assassinar um ser humano na rua.

Maurício Kanno disse...

Oi, Dani!

Neste post estou apenas refutando o argumento de pessoas que rejeitam o vegetarianismo simplesmente o associando a "radicalismo".

Não estou, neste post, de maneira alguma defendendo o "vegetarianismo total" ou "radical", como aparentemente você entendeu. Por isto não há problema algum em utilizar exemplos de atitudes relacionadas a outras pessoas ou a hábitos higiênicos do dia-a-dia, como tomar banho. Pois é apenas uma questão de Lógica a que está em jogo aqui. Quis mostrar logicamente como "ser radical", de maneira geral, não significa algo negativo por si só.

Maurício Kanno disse...

Mas, já que você fez a gentileza de escrever suas idéias a respeito do vegetarianismo mais integral, vou respondê-la.

Mas farei isso em outro post: escrevi em A maior defesa para o vegetarianismo integral e os direitos animais é ética.