sábado, 29 de setembro de 2007

Professora ensina vegetarianismo e, 10 anos depois, me manda notificação extrajudicial para retirar post a respeito

Em 25 de abril de 2016, quase 10 anos depois de publicado, foi pedido que o conteúdo deste post de blog fosse retirado. Quem fez isso foi, surpreendentemente, a pessoa sobre a qual ele tratava, positivamente, por ter feito um trabalho bacana de educação. 

O que me deixou especialmente chateado foi que, ao invés de ela me buscar diretamente (como tantas vezes ocorre nas interações para se resolver coisas, ainda mais entre colegas de causa), me mandou uma "notificação extrajudicial" por meio de um escritório de advocacia! Trata-se da história de uma professora que eu admirava por ter realizado um projeto de educação vegetariana em escolas, e teve seu trabalho divulgado numa matéria da Revista dos Vegetarianos (edição 12, setembro de 2007).

Como maior argumento, ela insistia que não houve "autorização" para reprodução desta matéria. Porém, sei bem que a lei de Direitos Autorais permite livremente a reprodução de conteúdos da imprensa, desde que haja atribuição de crédito à fonte, como se pode ver na Lei 9.610/98 (site do Planalto):

"Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:

I - a reprodução:

a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos;
(...)

III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra;"

Não há que se falar em direitos de autor para ela; e sim para a revista. Uma vez que ela tenha pedido para ou aceitado ser entrevistada pela revista, tornou-se pública, permitindo que outras fontes também tivessem acesso ao material divulgado.

Vejamos paralelo nesta decisão mencionada pelo JusBrasil: "Não se pode cometer o delírio de, em nome do direito de privacidade, estabelecer-se uma redoma protetora em torno de uma pessoa para torná-la imune de qualquer veiculação atinente a sua imagem. Se a demandante expõe sua imagem em cenário público, não é lícita ou indevida sua reprodução pela imprensa, uma vez que a proteção à privacidade encontra limite na própria exposição realizada. - Recurso especial não-provido. (Resp 595.600, Relator Ministro Cesar Asfor Rocha, de 18/03/2004)"

Também não havia neste texto ofensa à sua honra, seja por calúnia, difamação ou injúria contra a pessoa, pelo contrário, apenas divulgação elogiosa, como se poderá ver abaixo.

Poderíamos pensar em direitos de imagem para ela. Afinal, de acordo com a Súmula 403 do STJ: "Independe de prova ou prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais." Porém é claro que não obtive lucros com este blog ao divulgar a imagem dela; o fim foi apenas de divulgação de projetos sobre vegetarianismo. 

Vejamos o que conclui a respeito o site JusBrasil, linkado logo acima: "A nosso ver, e de acordo com o que vem sendo decidido pela jurisprudência pátria, a ação para fazer cessar o uso indevido de imagem (clássica obrigação de não fazer), assim como àquela para pleitear a consequente indenização (obrigação de pagar quantia), demandam duas condições alternativas ; 1) exploração econômica através da imagem e/ou; 2) lesão da pessoa retratada."

E há também, claro, o interesse público da comunidade vegetariana envolvido na questão devido ao projeto de conscientização realizado.

Apesar disso, a notificação que ela me mandou requeria a retirada da matéria e fotos "sob pena de ajuizamento de demanda judicial cumulada com pedido de danos morais, devidamente corrigidos monetariamente". (!)

Seja como for, a despeito de meu desgosto na interferência dela em meu blog pessoal, da maneira descortês e estranha de abordagem por não falar comigo diretamente (apesar de a advogada em si nunca ter sido descortês, pelo contrário, sempre educada), dos argumentos jurídicos sem sentido, e do sombrio "sob pena de (...)" acima; desconhecendo os motivos pessoais da pessoa, como proposta de acordo, retirei as menções ao nome e também a foto dela daqui; menções ao colégio em que ela atuou, entre outros detalhes, mantendo somente algumas passagens do texto original para demonstrar seu teor.

(Também solicitei à coordenação da USP da rede de blogs Stoa, onde este post havia sido copiado, para retirá-lo do ar.)

Realmente fiz questão de não apagar este post, e pelo contrário busquei expandi-lo, pesquisando sobre seu caráter jurídico, já que a reclamante fez questão de entrar nesse mérito - até para ajudar outros leitores que busquem pelo assunto na internet a se esclarecerem sobre possíveis abusos neste tipo de situação. Mesmo assim, como pediu a advogada da solicitante em nosso acordo, reescrevi o texto de forma impessoal, retirando o nome dela, entre outros detalhes, como citei, além de termos que ela não tinha apreciado em uma versão prévia deste post (talvez por não achá-los de bom tom). Então, dou o caso por encerrado.

====================================

O texto inicial da matéria era: "Ela superou as dificuldades do passado e hoje divulga o vegetarianismo em um dos lugares onde ele mais deveria ser divulgado: nas salas de aula"

""Quando percebemos o grau de desumanização da sociedade, vemos que a arte na educação pode ajudar no processo de reconstrução de uma identidade humana". A frase não poderia vir de outra pessoa senão de um educador. Neste caso, de uma professora paranaense determinada em seu propósito: divulgação do vegetarianismo por meio da educação e de trabalhos artísticos. Consciente das mazelas da sociedade, ela se propôs a desempenhar seu papel e realizar algo pela vida.

(...) Destinado a estudantes de 16 e 17 anos da rede pública de ensino, o programa pretende não apenas pôr fim à desinformação em relação ao movimento vegetariano, mas também quebrar barreiras socioculturais tão arraigadas no Brasil. "A escola reflete os conflitos de interesses existentes na sociedade, que está polarizada entre uma minoria com renda monumental e uma maioria miserável, e que segue um modelo político e econômico em que o lucro e a produtividade estão acima de tudo".

(...)

Convicta de sua escolha, resolveu arregaçar as mangas e ir atrás daquilo que acredita fazer a diferença: educação. No final do ano passado, elaborou seu projeto e buscou instituições de ensino que se interessassem pelo programa. Visitou três escolas da rede pública de Curitiba, onde mora atualmente, e apenas uma - Colégio (...) - aceitou sua proposta. "Em função da minha formação e experiência profissional como professora de (...), acabei por integrar a arte em questões relativas ao meio ambiente e à cidadania." (...)"

[Da Revista dos Vegetarianos, edição número 12, de setembro de 2007; trechos entre colchetes são minhas inserções.]

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Pessoas confusas com super-poderes, não "heróis"

Ufa, enfim consegui terminar meu projeto, currículo e reunir toda a papelada para me inscrever no mestrado... Ufa!!! Q trabalhão!

Agora vou aproveitar pra falar de outra coisa, bem menos polêmica, apesar de meio atrasado. Começou esta semana, após meses de espera pelos admiradores, a segunda temporada da super-série Heroes! É uma série de televisão que vem sendo exibida nos EUA, e está tendo muito sucesso com o público e a crítica. Veja um gostinho desta segunda temporada abaixo:



Aqui você pode ver também o começo do primeiro episódio da primeira temporada:



O que tem de interessante nela? Personagens com super-poderes, mas que não são de fato "heroes" ou "heróis", como se diz no título... bem, de vez em quando até dão uma de heróis, tentando salvar o mundo e tal, mas não é a regra. e seus poderes nem sempre são muito úteis (ou a turma não usa direito, como poderíamos esperar que usassem), nem usam uniformes colantes com cueca pra fora... são pessoas na medida do possível normais.

E o roteiro, o drama estabelecido nas histórias também é muito interessante. E não é centrado em nenhum personagem específico; mas em sua rede. (Algo parecido com Lost; mas como costumam dizer, Heroes resolve seus enigmas). É tão bom que pessoas comuns, como minha esposa, adorou e ficou fascinada! (Ela não gosta dos meus gibis de super-heróis... Nem de RPG.)

Onde assistir

Bem, onde você pode assistir? Tem algumas opções, mas a melhor que encontrei é pegando os episódios pelo site Brazil Séries, cujos links indico abaixo.

-Aqui tem os 23 episódios da primeira temporada.

--Aqui tem a segunda temporada.

Mais especificamente, por enquanto só saiu um episódio da segunda temporada, mas na segunda-feira já sai mais. Bem, pegue esse primeiro episódio aqui. (se você já assistiu a primeira temporada, lógico!)

Aí tem na verdade a descrição e algumas opções para download. Eu consegui direto na opção do site XPG, no sub-título RMVB com legendas. Ou seja, aqui.

Como assistir

Bem, e você poderia perguntar: por que não pegar o AVI sem legenda? AVI é um formato de vídeo que conheço! Nunca ouvi falar desse tal RMVB! Pois é, eu também nunca tinha ouvido falar. Até conhecer Heroes, e descobrir que RMVB é beeem mais leve que AVI. E tem uma boa qualidade ainda. Ah, e se você puder ouvir inglês nuumaa boa, além de ter uma óootima conexão também, fique à vontade, para pegar o AVI sem legenda. Bem, e até dá pra depois de um processo complexo (digo isso porque não consegui) botar as legendas separadas no AVI sem legenda e assistir junto... Mas acho que não vale a pena.

Então recomendo o RMVB. Como assistir? O Windows Media Player não toca! Vou precisar do software Real Player? Não, não pegue, em geral esse software costuma ser pedido pelo RMVB, mas é um software tremendo de um chato, que não funciona direito, e fica entupindo seu computador com outras coisas. Pegue o Media Player Classic for Windows, por aqui.

Isso se você usar Windows, claro.

Linux

Se você preferir usar Linux (por exemplo, Ubuntu, a distribuição aparentemente mais fácil do Linux), é bem mais complicado. Quem está dizendo não sou eu, é Daniel Neves, que conta em seu blog que após uma grande aventura épica conseguiu descobrir um jeito pra dar certo, trabalhoso, mas que resolve. Infelizmente, o link que nos passa está fora do ar. Mas achei o link certo depois. Basta clicar aqui, e verá como usar RMVB no seu Linux Ubuntu.

Para quem manja de códigos e compilações (não é meu caso), pode seguir as instruções de Leandro Santiago da Silva. Basta clicar aqui e verá. A distribuição Linux que ele usou foi Slackware (uma das "distros" famosa por ser mais complicada).

YouTube

E é claro, você também pode assistir, independente do sistema que usa, pelo YouTube. Mas não encontrei episódios em vídeos únicos, apenas em partes. Creio que eles estão quebrados em umas 5 partes cada episódio. E como não gosto de ficar a todo momento interrompido, enquanto assisto algo... Não recomendo tanto assim este procedimento.

Mas que é prático é, ainda mais que já selecionei ao menos as 6 partes do primeiro episódio da primeira temporada aqui pra você! Então aproveite! E viva a Web 2.0!

Parte 1



Parte 2



Parte 3



Parte 4



Parte 5



Parte 6

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Não precisa ser "radical" ou "total". Pode ser "na direção".

Nem devia estar escrevendo hoje, pois estou hiper-corrido para inscrever meu projeto de mestrado. Mas só uma breve reflexão: hoje conversei com meu amigo e ex-colega de trabalho Robson, que disse estar sempre acompanhando meus posts neste blog via RSS. Bacana! Pedi sua opinião sobre vegetarianismo, meu tema principal. Ele disse que não concorda, e apesar disso gosta de ler o que escrevo.

Perguntei-lhe por que não concorda com o vegetarianismo. Ele disse ser algo radical, em tirar a carne do prato. Mas concorda que é negativo o sofrimento desnecessário dos animais, além do impacto ambiental da pecuária, e os efeitos na saúde. Bem, se é assim, parece que meu amigo concorda com os motivos do vegetarianismo.

E talvez você também, caro leitor. Talvez você só não concorde com o "radicalismo" de tirar toda a carne do prato. Se isso é complicado, não precisa tirar tudo. O mínimo que você tirar, o pouquinho que você reduzir seu consumo de carne, os animais, o planeta, seu corpo e nossos descendentes agradecem muito!

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Cuidado com o câncer na carne: Mc Dia Infeliz, hipocrisia e manifestação



Realmente é engraçado... Todos os dias do ano o McDonald´s promove o câncer, e em um dia vai querer ajudar contra? Até parece que engana... Ainda bem que tem gente que procura alertar a população contra esse tipo de hipocrisia.

Foi interessante essa manifestação bem na Praça de Alimentação do Shopping Santa Cruz, com faixas elevadas ao teto com balões de gás... Assim não tinha como tirar tão rápido! Foi em 25 de agosto de 2007, mês passado.

Saiba mais sobre a manifestação e o grupo: http://www.veganstaff.org/

E sobre como o consumo de carne promove o câncer (só links fora da "comunidade vegetariana"):

-EFE: Comer muita carne aumenta risco de câncer de cólon
-Lincx: Alimentos que ajudam a combater o câncer
-Wikipédia: Alimentação e câncer (com várias referências de fontes, notícias e pesquisas)
-BBC: Carne e doces aumentariam risco de câncer de mama
-Folha: Carne vermelha aumenta risco de câncer no intestino, diz estudo
-BBC: Carne aumenta risco de câncer de mama, diz estudo

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

O menino e o arco da árvore do sol



Bela metáfora de tradições indígenas da América do Norte, mostrando como o humano destrói seu ambiente. Belo em recursos de animação e história. Este vídeo é o resultado do Animation Capstone Program de 2005-2006 da Universidade de Washington.


Leia sobre:

(Marcialuzz)-> ela me indicou o vídeo, que legendou; é coordenadora da OCA-SVB de SP.

As consequências das ações humanas, que já tem gerado tantas misérias para seres de outras espécies, podem se tornar motivo de extinção da própria espécie Humana.


Trecho da carta enviada por Gerald Hausman a Marcialuzz, tradução de Beatriz Medina:

A história do Menino, na verdade, fala de como tratamos, ou maltratamos, a Mãe Terra. Baseia-se em muitas lendas indígenas da América do Norte. Ouvi a história ser contada de várias maneiras por vários contadores, iroqueses, crows, sioux, navajos. Adaptei-a, tornei-a curta e definitiva, para que todos pudessem ver a alegoria de como estamos destruindo a Terra. Os americanos nativos gostaram da minha versão da história. June LaGrande, contadora de histórias cherokee, viajou e contou a história para onde foi. Depois que faleceu, seu filho, Ramon Shiloh, contou a história e ainda a conta. Ramon assessorou o desenho animado.

Professores primários da Rússia usaram a história em suas aulas. A história foi escolhida por professores americanos para ser apresentada a professores russos. Transformei-a num livro em áudio e o Menino começou a realmente viajar pelo mundo. Muitos professores a vêem como protesto contra o mau uso da energia nuclear.(Gerald Hausman)

domingo, 23 de setembro de 2007

Dez maneiras de criar um Mundo Vegetariano

Apesar da crescente necessidade de uma mudança para o vegetarianismo como contraponto às atuais epidemias e às várias ameaças ambientais causadas pela produção e consumo de produtos de origem animal, os progressos têm sido relativamente lentos. Está na altura de considerar novas estratégias para promover o vegetarianismo de forma mais eficaz. Com as dez idéias que a seguir se sugere, pretende-se dar início a um diálogo que leve a mudanças positivas.


1. Estabelecer um objetivo e um prazo para um Mundo Consciente do Vegetarianismo.

Não devemos contentar-nos com os progressos relativamente lentos que estão ocorrendo em prol do vegetarianismo, especialmente tendo em conta todos os recentes relatórios de catástrofes ambientais que se avizinham. Uma possibilidade é definir um objetivo, como por exemplo: “Um Mundo Consciente do Vegetarianismo até 2010”. Isto poderia inspirar os nossos esforços, proporcionando um objectivo a alcançar. Notem a expressão “consciente do vegetarianismo”.

Não podemos esperar que todas as pessoas sejam vegetarianas até 2010, ou em qualquer outra altura, e não devemos argumentar que todas as pessoas devem ser vegetarianas. Contudo, podemos trabalhar, com um sentido acrescido de prioridade, para que todas as pessoas estejam pelo menos conscientes das várias razões para se tornarem vegetarianas, na esperança de que muitas agirão com base nesse conhecimento.


2. Tornar as pessoas conscientes de que uma mudança para o vegetarianismo é benéfica, tanto para os seres humanos, como para os animais.


Muitas pessoas resistem aos argumentos vegetarianos, alegando que não se podem preocupar com os animais quando os seres humanos enfrentam tantos problemas. Queremos reforçar a idéia de que uma mudança para o vegetarianismo seria muito benéfica, tanto para uns como para outros. Entre os argumentos ao nosso alcance, podemos enumerar os seguintes:

- As dietas com base em produtos de origem animal aumentam os factores de risco de muitas doenças mortais, incluindo as doenças cardíacas, vários tipos de cancro e AVC.
- A atividade agropecuária contribui significativamente para diversas ameaças ambientais para a Humanidade.
- O fato de 70% dos cereais produzidos nos EUA (e quase 40% dos cereais produzidos em escala mundial) serem destinados à alimentação de gado contribui para que cerca de 20 milhões de pessoas em todo o mundo morram anualmente de fome ou em consequência de subnutrição.


3. Informar as pessoas de que uma mudança para o vegetarianismo é hoje um imperativo social

A Humanidade está hoje ameaçada, como talvez nunca antes esteve, pelo aquecimento global, pela escassez crescente e disseminada de água potável, pela extinção acelerada de espécies, pela destruição das florestas tropicais e de outros importantes habitats, e por muitos outros problemas. Devemos alertar as pessoas para o fato de todas estas ameaças e muitas outras serem significativamente agravadas pelo seguinte: criam-se anualmente 50 bilhões de animais para abate em todo o mundo; quase 40% da produção mundial de cereais é usada para a engorda desses animais; é necessário 14 vezes mais água, 10 vezes mais energia e mais do que 20 vezes mais terra para uma dieta com base em produtos de origem animal do que para uma dieta vegana; a indústria agro-pecuária contribui grandemente para as emissões de dióxido de carbono, metano e outros gases com efeito de estufa; e muito mais.

Devemos também enfatizar que as doenças causadas pelo consumo de produtos de origem animal resulta em custos elevados nos cuidados médicos, os quais estão contribuindo para um recorde nos déficits orçamentários e para uma necessidade visível de cortes nos serviços sociais básicos.


4. Informar as pessoas de que uma mudança para o vegetarianismo é hoje um imperativo religioso

Muitas pessoas seguem atualmente uma religião e muitas afirmam construir as suas vidas com base em valores morais ligados às suas religiões. Devemos, de forma respeitosa, falar com essas pessoas sobre a forma como as dietas com base em produtos de origem animal e a indústria agro-pecuária contradizem postulados religiosos básicos que vão no sentido de protegermos a nossa saúde, tratar os animais de forma compassiva, preservar o meio ambiente e os recursos naturais, ajudar as populações com carências alimentares e procurar e manter a paz.

Devemos dar ênfase em ensinamentos bíblicos como: “As bençãos de Deus estendem-se a todas as suas criaturas” (Salmos 145:9), “A pessoa de bem respeita a vida dos seus animais” (Provérbios 12:10); que aos animais, tal como aos seres humanos, deve ser permitido o descanso no dia sabático (excerto dos Dez Mandamentos), e ensinamentos semelhantes de outros livros sagrados e de outros mestres.


5. Estabelecer uma relação entre o vegetarianismo e questões atuais

O vegetarianismo tem repercussões em quase todos os aspectos da vida – a saúde, a nutrição, os animais, o ambiente, a energia, a água e outros recursos, a economia, a política, a vida familiar e muitos mais – e devemos informar as pessoas sobre essas ligações.

Quando surgem relatórios nas notícias sobre o aquecimento global e os seus efeitos, devemos realçar que as dietas com base em produtos de origem animal contribuem significativamente para as emissões de dióxido de carbono, metano e outros gases com efeito de estufa.

Quando surgem notícias sobre impostos, déficits nos orçamentos e outros assuntos econômicos, devemos indicar que os custos com a saúde estão crescendo, num esforço para curar as muitas doenças que estão conclusivamente ligadas a dietas com base em produtos animais. Quando surgem artigos sobre a escassez de água e sobre as secas, devemos ajudar as pessoas a compreenderem que a indústria agropecuária exige muito mais água e outros recursos do que a agricultura de base vegetal. Muitos exemplos adicionais podem ser dados.


6. Iniciar uma Campanha para o envio de Cartas

Para dar sequência ao ponto nº 5, deveria se criar uma ampla campanha para envio de cartas a empresas editoras, sobre as ligações existentes entre as várias questões atuais e o vegetarianismo.

Se pelo menos uma pequena percentagem de pessoas sensibilizadas para o vegetarianismo e para os assuntos com ele relacionados escrevesse só uma carta por mês, poderia ter um maior impacto. Poderia ser criado um site que lançasse diariamente tópicos de desenvolvimento para cartas baseadas em questões atuais, bem como exemplos de cartas.

Numa abordagem paralela, e visto que muitas pessoas ouvem diariamente programas de debates na rádio, deveria igualmente haver um esforço organizado para fazer com que as pessoas ligassem para esses programas, com mensagens sobre o vegetarianismo. Se é verdade que os apresentadores de programas de rádio estão geralmente muito bem informados sobre uma grande variedade de assuntos, muitos têm grandes preconceitos relativamente à nutrição, saúde e outras questões ligados ao vegetarianismo.


7. Tornar a mudança para o vegetarianismo numa prioridade para os movimentos de defesa dos direitos dos animais

A vasta maioria dos casos de maus tratos dos animais ocorre em locais de criação de animais. No entanto, muitos, talvez a maioria, dos ativistas dos direitos dos animais centra o seu trabalho em outros campos como os circos, os rodeios, as peles, os animais domésticos e as cobaias.

Todos estes são aspectos importantes e é fundamental acabar com todos os tipos de maus tratos dos animais. Contudo, as dietas com base em produtos de origem animal e a indústria agro-pecuária ameaçam a saúde de cada um de nós e o bem-estar da Humanidade. Se a maioria dos defensores dos direitos dos animais trabalhasse na promoção do vegetarianismo e do veganismo, mesmo por um período de tempo limitado, e em conjunto com os seus outros esforços em prol dos direitos dos animais, isso poderia ter uma impacto poderoso.


8. Desafiar o sistema de saúde

Todas as pessoas estão preocupadas com a sua saúde e com a saúde daqueles que amam. Existem provas sólidas de que doenças cardíacas, vários tipos de cancro, AVCs e outras doenças crônicas degenerativas podem ser grandemente reduzidas através de uma mudança para dietas vegetarianas e veganas, simultaneamente a outras mudanças positivas no estilo de vida.

Contudo, o sistema de saúde, incluindo a maioria dos nutricionistas, ignoram esta informação e não advertem os seus pacientes e o público em geral para o fato de muitas doenças poderem ser prevenidas, e por vezes regredidas, através de alterações na dieta. Isto pode mesmo ser chamado de negligência médica. É essencial que desafiemos os profissionais de saúde e que respeitosamente os peçamos para que ajudem a educar a população sobre dietas saudáveis.

Tal como indicado no ponto 10, outros profissionais, tais como, educadores, políticos, líderes religiosos e jornalistas devem ser igualmente estimulados, por forma a aumentar a tomada de consciência sobre a saúde e os demais benefícios das dietas vegetarianas e veganas.


9. Formar alianças com outros grupos

Dado que o vegetarianismo tem ligações com muitas outras temáticas sociais, devemos tentar construir alianças fortes com outros grupos que trabalhem com vista a mudanças positivas. Por exemplo, devemos procurar aliar-nos a grupos ambientais e informá-los de que a criação anual de 50 mil milhões de animais para abate, essencialmente em áreas de criação de gado, contribui para várias ameaças ambientais; devemos procurar aliar-nos a grupos preocupados com a fome, a pobreza, a escassez de água e energia, o aquecimento global e outros assuntos relacionados, e informá-los de como a produção de gêneros de origem animal contribui para muitas ameaças ambientais e do seu papel na exaustão dos recursos naturais.


10. Desafiar as mídias, os políticos, os educadores e outros membros do sistema

Uma vez que, tal como indicado acima, a Humanidade está ameaçada como talvez nunca antes, que uma mudança para o vegetarianismo é um imperativo social, e que há ligações entre o vegetarianismo e várias questões atuais, devemos tentar falar diretamente com membros influentes da sociedade e alertá-los para que tomem uma posição relativamente ao vegetarianismo, ou que, pelo menos, incluam o assunto nas suas agendas.

Devemos pedir aos educadores para que assegurem que as crianças sejam bem informadas sobre nutrição e para que lhes sejam asseguradas opções saborosas e nutritivas em cada refeição. Devemos exortar os jornalistas e editores para que sensibilizem o público sobre os vários efeitos negativos das dietas com base em produtos de origem animal e os muitos benefícios da dietas vegetarianas e veganas.

----------------------------------------------------------------------

Esta é somente uma esquematização de alguns passos que seriam úteis com vista a uma mudança para um mundo vegetariano. Muitas pessoas dedicadas dentro dos movimentos vegetarianos e a ele ligados, podem fazer acréscimos aos pontos focados e apresentar sugestões adicionais. O importante é que nos tornemos cada vez mais envolvidos, para nosso próprio bem, dos animais e do nosso precioso, mas ameaçado, planeta.

------------

Fonte:
Do original http://jewishveg.com/schwartz/tenways.html
tradução e adaptação de Vanda Viegas
Eu, Maurício Kanno, fiz apenas adaptações do português lusitano para o do Brasil

Enviado pela designer Luciene Cardoso na lista veg-brasil@yahoogrupos.com.br

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Animação de Hip-Hop em massinha no Cartoon Network!

Estréia hoje à meia-noite no canal por assinatura Cartoon Network (e por mais 4 sextas-feiras) o trabalho de Orlando Mendes, do Turpin Grego Estúdios. Não tenho lá afinidade com hip-hop, estou agora dedicado ao vegetarianismo e à libertação animal, mas parece uma proposta interessante.

Quero apoiar sim um belo trabalho artístico destes de animação, que lida com esta questão de cultura do popular de verdade, e ambientado aparentemente até aqui no Brasil, São Paulo, parece até minha Zona Leste! Sim! Vamos fortalecer esta turma ritmada, que construiu um universo tão rico de personagens tão vívidos! As garotas dançando, o negão de óculos e o velhinho tomando sopa são ótimos! Assista abaixo!

Info e fotos: http://www.terpinsgreco.com.br/imprensa/

Vídeos

Cenário:



DJ com as mocinhas



O véio



DJs




Orkut:

Filme

Orlando

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Arte, ilusão, animação e animal

Vou falar sobre os elementos de meu trabalho: Importância da animação; semelhanças sensíveis entre humanos e outros animais; e representações de animais "de produção".

Pois é, já que o Julio Boaro pediu, vou contar sobre trabalho a que me referi em meu post de ontem, que apresentei na disciplina de pós-graduação Estética e Rupturas, interunidades da USP, mas coordenada pelo MAC.

Estudei o livro-referência da disciplina, de Ernst Gombrich, Arte e Ilusão: Um estudo da psicologia da representação pictórica. E cheguei a um trabalho dividido em 3 partes:

1 - Importância da animação e cartum para Gombrich.

O autor fala de como Rembrand, por exemplo, evoluiu do mais detalhado para o menos detalhado, de maneira eficiente, e como Töpffer e outros caricaturistas, a partir do século XVII, principalmente, utilizaram como meio de contar histórias; este último falou que um meio tão poderoso deve ser usado para fins educativos e morais, inclusive, pelo bem de nossa sociedade, criticando os que visam a arte pela arte.

A idéia é que por classes de objetos, por configurações gerais, nós conseguimos naturalmente visualizar figuras importantes para nós, humanos, como rostos. Picasso fez isso, utilizando um automóvel de brinquedo no lugar de um rosto. Veja na figura abaixo.




2 - Ligação sensível entre humanos e outros animais.

No livro Arte e Ilusão, Gombrich fala em mais de um capítulo, talvez em 3 deles, sobre "nós", referindo-se aos animais em geral (incluindo a espécie humana). Todos nós entendemos o mundo como relações. De cores, de luzes, de sons...

Citou uma experiência com um pintinho, em que se acostumou o animalzinho a comer de uma tigela clara (apesar de também haver uma outra tigela escura). Depois, ofereceu-se a ele uma outra tigela, ainda mais clara. Ele preferiu esta. Por quê? Ele, assim como humanos, pensam não absolutamente, mas relativamente. Isso também vale para a arte e também para a dor, emoções e sofrimentos.

[Foto: Comunidade do Orkut "Vegetarianos"]

3 - Representações de animais em animações (mais importante)

Gombrich fala como podemos enxergar diferentes figuras de diferentes maneiras. Um exemplo que ele dá, bastante representantivo (mas uma ilusão de óptica) é o mostrado ao lado, do coelho-pato. Experimente encontrar aí o coelho e o pato. Você precisa de um certo tempo para conseguir visualizar o coelho ou o pato. Depende de cada um.

Igualmente, você também pode enxergar um bife ou uma gelatina de diferentes maneiras. Hoje em dia, por exemplo, eu já enxergo como um pedaço de cadáver de vaca ou boi, como é de fato. Apesar de muitos enxergarem como "comida" simplesmente, e não como o animal sensível e comunicativo que ele é (ou era) de fato.

Entre outros motivos, isso se deve pela tradição selvagem que herdamos, sustentada na cultura de massa por animações que mostram um mundo bucólico em que vivem os animais. E não a realidade. Isso é herdado por uma tradição pictórica tradicional, como a pintura de Constable, Park Wivenhoe (1816), abaixo.



Comparei no caso o longa metragem de animação O Galinho Chicken Little (um pintinho, mesmo exemplo que toma Gombrich para falar das sensibilidades de animais como nós) e um trecho do documentário em vídeo A Carne é Fraca.

O trecho selecionado mostra a socióloga Marly Winckler falando desta questão aplicada aos cartuns de embalagens de carne e laticínios, seguindo-se por filmagem de pintinhos selecionados, jogados no lixo e mortos. Veja o tal trecho aqui ou logo abaixo (a partir de 5 minutos e 34 segundos).





[A imagem no alto é do personagem Babar, a que o historiador da arte Gombrich, que estudei, se refere em um dos capítulos.]

Novo visual de Maurício Kanno


Ae, td bom? Dificilmente falo de coisas assim tão banais e pessoais, então vou me permitir desta vez. Aliás, não falar, apenas mostrar. Resolvi tirar a barba... de novo.

Estive de barba entre fevereiro de 2005 a dezembro de 2006, e depois de maio de 2007 até hoje, 20 de setembro de 2007... Uau, que fenômeno "importante" para fazer cronologia! :)

Aliás, esta foi a primeira vez que tirei uma foto com minha filmadora digital japonesa (por o manual estar em japonês, só aos poucos estou aprendendo a usar as coisas...)

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Só o pó... mas com glória acadêmica e lutando pelos direitos animais!

Estou contente de iniciar meu trabalho acadêmico como defensor dos direitos animais (algo sutil, mas está indo). Mas não sei como estou vivo ainda... não dormi de ontem pra hoje pra montar minha apresentação de trabalho para minha disciplina de pós (como aluno especial) Estética e Rupturas. Meu trabalho foi fazer uma leitura da obra Arte e Ilusão: Um Estudo da Psicologia da Representação Pictórica (do aclamado teórico da arte Ernst Gombrich), para a minha pesquisa sobre Animações e Representações de Animais "de Produção" (meu projeto de mestrado).

Ah, eu mostrei até trechos do Carne é Fraca... eheh Deu pra causar um pouco do incômodo necessário.

Bom... Depois eu falo mais sobre isso, se houver interesse seu... Agora preciso desabar na cama... E recuperar minha noite de ontem pra hoje sem dormir... Pelo menos o pessoal falou que gostou... E inclusive a professora. Só acabei ficando muito tempo na apresentação... Mas também eu perguntei pra ela o tempo, ela quem não quis falar... Só porque eu faltei no dia em que ela disse ter explicado o funcionamento da coisa... Enfim... Eu estreei as apresentações, dei a cara pra bater. É isso aí.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

sábado, 15 de setembro de 2007

Tchau, Veggy Crispy



O McDonald's foi processado por falsidade ideológica. Apesar de propagandear um lanche vegetariano, admitiu que havia um pouco de frango. "Uma fração", mas havia. Puxa vida, por que colocar, se é lanche vegetariano?

Hoje fui lá pra verificar, sem opções como estava muito tarde, e pedi um Veggy Crispy. Disseram que não tinha mais. É melhor tirar, pensa a rede. Assim não tem mais encrenca com esses vegetarianos chatos. Que não venham mais aqui mesmo! Será que não bastava tirar a bendita fração de frango, pois vegetarianos não comem isso? É ótimo que a rede tenha tido essa iniciativa; mas por que não fazem direito? Com certeza alguém vai dizer: vocês são radicais! Não, queremos simplesmente transparência e lanches vegetarianos.

E lá vai perguntar se não tem algo sem carne: "Tem de frango." Claro, claro. Normal. Não é "carne de frango", é "frango". Carne é só de boi, lógico. Por isso que tem que pedir: sem carne, frango ou peixe. Fiquei com batata frita desta vez.

O curioso é que o site deles ainda não foi atualizado. Continua constando: "Veggie Crispy: uma ótima opção para os vegetarianos." Ver em: http://www.mcdonalds.com.br/produtos/veggie_crispy.asp

Leia mais:

Mc Donald's entra em contradição em relação ao Veggie Crispy e é processado
Confirmado: Veggie Crispy não é vegetariano
Desculpas do Mc Donald´s não elimina processo

Crítica: peça de teatro extremamente chata

Hoje assisti "Educação sentimental de um vampiro", no Sesi. Não recomendo. Foi a única peça ou espetáculo em minha vida, que me lembre, que saí antes de terminar. Simplesmente não tem história. Simplesmente é cansativa. Fica repetindo um monte de vezes a mesma coisa; pessoas repetindo, repetindo; falando, narrando; não há dinâmica; é chata.

Na verdade, outras peças de teatro que tenho assistido seguem a mesma fórmula "pós-moderna": sem história (começo, meio e fim), caóticas, gente tirando a roupa e fumando. Mas essa foi a pior. Estou para encontrar alguma peça que seja realmente entretenimento, lazer. Que envolva. Que leve o público para alguma história. Só peço isso. Mas parece que não tenho esse direito.

Basicamente, parece que teatro não quer ser entretenimento, mas apenas uma "arte" para os próprios autores, atores e diretores. O público é um mero detalhe. Assim, teatro só está espantando cada vez mais o público. Desacredito dessa de popularizá-lo.

Só pra não dizer que não falei das flores: Enquanto arte, ok; tem ritmo, é forte, jogo de cena, espelhos, etc. Só não é entretenimento e interessante. Ah, e lógico, não tem nada de vampiro. Só se for para sugar a paciência do espectador. Um espectador que esperava algo interessante.

Proteínas animais, fontes de info e Índia

Minha amiga e ex-colega da faculdade de Jornalismo, a Érica Watanabe, fez a gentileza de falar sobre sua experiência na Índia, onde passou algum tempo fazendo uma pesquisa; e comentar detalhadamente um post meu sobre crianças vegetarianas, inclusive questionando meu uso de fontes. O post com seu comentário está aqui: http://blog.kanno.com.br/2007/09/crianas-podem-ser-vegetarianas-mdico.html

Agradeço a ela o trabalho. Praticamente, concordo com todos os fundamentos do que ela disse. São informações interessantes. Mas vou comentar sobre, detalhando o que penso.

Proteínas animais

1) Quanto a este assunto das "proteínas animais", eu concordo que elas sejam diferentes das proteínas vegetais. O que eu quero dizer, baseado no que pesquisei (afinal, também sou leigo então necessito pesquisar bastante), é que é ambos os tipos de proteínas podem satisfazer nossas necessidades.

Apesar de os alimentos vegetais serem menos ricos em proteínas. Concordo também com isso que você disse: do ponto de vista protéico, as proteínas animais são muito mais nutritivas que as vegetais. E, de fato, é necessário diversificar a alimentação vegetariana. Isso é o que os vegetarianos e veganos que estou conhecendo recomendam mesmo.

Nas próprias palavras do médico Eric, que coloquei no post, ele diz que os vegetarianos precisam ter cuidados em relação à proteína.

Mas é necessário lembrar que não é só de proteína que vive o ser humano; mas também de fibras, ferro e ácido fólico, por exemplo, que são nutrientes que faltam na dieta onívora (incluindo carne), ainda de acordo com esse médico. Desta maneira, há o que se preocupar em termos de falta de nutrientes, nas duas dietas. Os onívoros também precisam diversificar sua alimentação (eu inclusive me lembro de minha mãe falando: come isto, tem fibras! e eu nem dando bola... eheh).

E pelo visto não há só problemas de falta; também há problemas de excesso, como tudo na natureza... O médico também fala no excesso que os onívoros normalmente fazem de proteínas e gorduras. Me parece que a população em geral está bem consciente do problema das gorduras, colesterol alto... Mas não em relação ao problema do excesso de proteínas.

Em dezembro de 2006, saiu no periódico científico Americal Journal of Clinical Nutrition, o trabalho dos pesquisadores Luigi Fontana, entre outros, da Universidade de Washington, alertando para os riscos do excesso de proteína na alimentação. Segundo eles, uma dieta hiperprotéica pode contribuir para o aumento de hormônios como IGF-I, ligado ao desenvolvimento de câncer, principalmente de mama, próstata e cólon. Leia detalhes aqui: http://www.ajcn.org/

De todo modo, me parece que o vegetarianismo é difícil principalmente por ser uma mudança de hábitos, e por ser uma dieta à qual as pessoas em geral não estão muito acostumadas. Eu mesmo preciso estudar mais, afinal, por toda a vida fui onívoro, então meus parâmetros são outros. Só há uns 6 meses sou vegetariano.

Desta maneira, me parece que pais vegetarianos que já conheçam bem o que é necessário numa dieta vegetariana também vão poder alimentar e nutrir adequadamente seus filhos, assim como aconteceu com minha ex-aluna vegana. O importante é buscar informações, assim como pais onívoros também vão buscar se informar para que seus filhos cresçam saudáveis.

----------------------

Fontes: "comunidade vegetariana" e veracidade de fontes

2) Em relação a eu respaldar argumentos com artigos ou textos em geral da "comunidade vegetariana"... Bem, simplesmente busco informações de quem parece ter estudado melhor o assunto (e também o que está mais à mão!)... Neste último exemplo, utilizei as informações fornecidas por um médico especialista em nutrição, e nutrição vegetariana. Foi na Revista dos Vegetarianos em que ele falou, de fato, mas busquei a revista para me informar sobre o assunto. Dificilmente esse tema é pauta em outros lugares.

Realmente é mais fácil encontrar fontes na tal "comunidade vegetariana". Mas também utilizei outras fontes neutras em meu blog, como a revista Época. Ver no meu post http://blog.kanno.com.br/2007/08/respostas-gerais-opinies-da-turma.html, em que falei pra turma na lista; o link pra reportagem da revista é: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG74465-5856,00.html .

E mesmo quando eu encontro informações de vegetarianos, confiro suas fontes, como o estudo Our Food Our World, EarthSave Foundation, Santa Cruz. Desvinculado, também. E hoje, acabei de me utilizar de uma pesquisa da Universidade de Washington, publicado em uma revista científica, também desvinculada dos vegetarianos.

Concordo com a Érica que é importante buscar fontes não vinculadas. E, mesmo quando falam fontes da "comunidade vegetariana", verificar quais foram suas fontes primárias. Afinal, não vamos acreditar em ninguém, seja veg ou não, sem saber seus fundamentos, em que estão se baseando, certo?

Independente disso tudo, uma pergunta me ocorre: quais são os interesses de cada um no assunto? Que benefícios cada um pode colher?

Índia: vegetarianismo por religião

3) Sobre a Índia, de fato ela aparece com frequência como exemplo em discussões vegetarianas. Outra moça que me respondeu, a Eliane, falou dela, por exemplo. Mas estou consciente de que lá o povo não é assim preocupado com "direitos animais"; está é preocupado em seguir sua religião, creio que em geral cegamente.

É claro que o hinduísmo tem seu fundamento na filosofia de não-violência, mas aí já são outros quinhentos... Senão também iríamos dizer que no Brasil o pessoal cristão sabe quais são os fundamentos de suas práticas religiosas.

O Tom Regan, em seu livro, sobre o qual comento em http://blog.kanno.com.br/2007/08/imagem-dos-defensores-dos-direitos.html , também critica os indianos pelo maltrato aos animais.

Creio que o exemplo da Índia é frequentemente tomado com a finalidade mais para se verificar o que acontece com pessoas vegetarianas desde o nascimento, independentemente de qual é a razão dessa dieta. Ou pelo menos predominantemente, já que há animais que eles consomem, como disse a Érica, que já morou lá.

Mesmo na própria estatística da European Vegetarian Union, uma fonte que seria interessada em aumentar a porcentagem, registra-se que somente 40% dos indianos são vegetarianos, contrariando a crença geral de que são todos vegetarianos. A informação da Érica explica que animais os 60% restantes comem. Leia detalhes de estatísticas de vegetarianismo pelos países em: http://www.european-vegetarian.org/lang/pt/info/howmany.php

Abraço!
Maurício Kanno

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Pós-graduando em Comunicação na USP precisa saber de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs)

Olá, não sei se vc está sabendo, mas enfim decidi prestar mestrado na ECA-USP... Vamos ver. O que importa de fato, agora, que eu queria comunicar a você, é que o livro do

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Economia, sociedade e cultura. 9ª.ed. atualizada. Vol. 1. São Paulo: Paz e Terra, 2006

está entre os 3 da bibliografia obrigatória do programa de Ciências da Comunicação para pós-graduação na ECA (não estava no ano passado).

Isso é interessante porque todo mundo que quiser prestar algo lá, envolvendo ou não tecnologia (seja cinema, propaganda, jornalismo, quadrinhos, relações públicas, etc.) vai ter que ler este livro e estar inteirado do assunto das redes e tecnologia, internet, sociedade da informação, etc. (eu por exemplo, eheh, ainda não li o livro...)

Isso mostra como este assunto das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (o que inclui pensar em internet, blogs, fóruns, etc.) realmente está na crista da onda, sendo cada vez mais valorizado.

Veja aqui o programa e a bibliografia obrigatória: http://poseca.incubadora.fapesp.br/portal/comunicacao/ingresso/infoespe/

[A propósito, o cara da foto é o Castells, o autor do badalado livro...]

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Manifesto anti-nuclear

Eei, acabei de participar de um manifesto público (meu primeiro!) do Greenpeace e SOS Mata Atlântica, em frente ao Teatro Municipal, contra usinas nucleares...

Acredito que é importante dar apoio a este tipo de manifestação, e mostrar publicamente como certas coisas, como produção de energia nuclear, são perigosas. Há outras opções bem mais seguras e sustentáveis, como a energia eólica, por biomassa, bagaço de cana, além da solar, principalmente!

Sinceramente, eu não sou assim tão envolvido e estudioso do assunto de energias, e principalmente nuclear. Mas fui convidado a este evento (pois fui colaborador do Greenpeace, com pequenas quantias, por um período entre ano passado e este ano), e resolvi então verificar o que está ocorrendo na área.

Não vale a pena: perigo e insustentabilidade

Com algumas pesquisas, concluí que não vale a pena o risco pela energia nuclear. Com certeza o país precisa de energia, mas os caminhos alternativos indicados acima são bem mais recomendáveis. E é bom lembrar que até agora não se resolveu o lixo nuclear criado pelas usinas Angra 1 e 2.

Na manifestação, foram lembrados os mortos no acidente em Goiânia, há 20 anos atrás, além das várias outras pessoas vitimadas pela radiação. O governo FHC construiu a usina Angra 2, no Rio de Janeiro; não devemos permitir que nosso governo atual, Lula, construa a Angra 3, como tem planejado.

Mídia

Agora, o engraçado é que muitos fotógrafos e cinegrafistas foram lá, dispararam de monte suas câmeras, mas não vi cobertura na internet agora não... Sei lá, não vejo TV, quem sabe nos jornais tenha algo amanhã (posso visitar as bancas). Mas se nem na internet tem...

O fato é que o objetivo era um protesto pacífico e que não atrapalhasse passagens, sequer ao teatro. Mas parece que, se não não tem quebra-quebra, a mídia não divulga. Só se trata sempre de divulgar: "vejam como as pessoas que se manifestam são violentas!!!!" Se aparece um protesto pacífico, não serve pra ser noticiado. Os grandes editores parecem não querer mostrar manifestantes pacíficos e estimular a reflexão sobre esses temas.

Notícias do evento:
http://www.atarde.com.br/brasil/noticia.jsf?id=788169
http://www.greenpeace.org/brasil/nuclear/noticias/s-o-paulo-tambem-faz-ato-em-me

Participe da Campanha Nuclear Não:

http://www.sosmataatlantica.org.br/index.php?section=content&action=contentDetails&idContent=118

Mais informações:
Reportagem Agência Brasil: http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/05/04/materia.2007-05-04.0511546785/view
Angra 3: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u323840.shtml
Acidente com o Césio: http://www.greenpeace.org.br/nuclear/cesio/flash_cesio.html
Escolhas de energia: http://www.greenpeace.org/brasil/nuclear/fazendo-as-escolhas-certas

[Foto: Greenpeace]

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Crianças podem ser vegetarianas? Médico Eric: bastam os devidos cuidados

Olá. Tudo bem?

Conheci hoje uma pesquisadora, bem legal, formada em Ciências Biomédicas... E ela afirmou algo que eu nunca tinha ouvido antes (já vi muitas objeções ao vegetarianismo, mas esta...):

"Tudo bem o povo se tornar vegetariano adolescente, adulto... Mas desde bebê e criança não rola. Os pais veganos ou vegetarianos precisam alimentar os filhos com carne, pois 'proteína animal' é necessária."

[Bem, pelo que li sobre o assunto, esse papo de "proteína animal" parece não ter muito fundamento. Proteína é proteína, independe de ser de origem vegetal ou animal. Mas eu falar isso para uma cientista biomédica, como pode?]

Bem, como eu sou jornalista e não cientista biomédico, nem médico ou nutricionista ou mesmo biólogo, achei melhor não querer discutir muito (ao menos ela não foi totalmente contra o vegetarianismo), e pedi para ela me mandar pesquisas que comprovem o que ela disse, o que ela aceitou prontamente. [Quando ela me enviar eu publico aqui.]

----

Bem, mas fui pesquisar em casa nas minhas revistas. Na Revista dos Vegetarianos edição 7, encontrei, na reportagem Derrubando mitos e revendo verdades, por Viviane Pereira, informações do médico Eric Slywitch:

"Mitos:

Criança necessita comer carne porque está em fase de crescimento


Esse é outro mito muito difundido que pode ser derrubado com a história de pessoas que são vegetarianas desde o nascimento e também famílias vegetarianas há mais de uma geração. O fato é que quando há uma dieta balanceada, a criança não terá qualquer problema de desenvolvimento. Respeitando as necessidades alimentares, é importante estar atendo à proteína, ao cálcio, ao zinco e à vitamina B12. Especialmente nessa fase, o acompanhamento de um profissional é fundamental."

Eu, pessoalmente, me recordo de uma ex-aluna minha, a Yara (como se pode ver no blog dela, ela cresceu saudável, com vários amigos e praticando escotismo e esportes radicais), da ONG Promove. Ela disse ser vegana desde que nasceu, tendo pais veganos e crescido comendo carne raríssimas vezes com encontros com amigos.

-------

Eu só me preocupo com a questão que o médico fala no texto, sobre o cuidado especial: já não seria um desestímulo? Mas me parece que as crianças de modo geral precisam de acompanhamento médico mesmo. E lendo também informações do médico em entrevista na Revista dos Vegetarianos 5, encontro algo que deixa isso mais ameno:

"Posso adotar uma dieta vegetariana para meus filhos?

Sim, pode! A orientação dietética é fundamental para crianças. A suplementação de B12 é indiscutível para elas. Todas as outras recomendações de suplementação para vegetarianos são idênticas às dos não vegetarianos."

e

"Além da proteína, a que outros nutrientes é preciso ficar atento para não ficarem defasados numa dieta vegetariana?

A B12 é o ponto fundamental. Todo e qualquer vegetariano deve fazer dosagens anuais para verificar os seus níveis de B12, independente do tempo que é vegetariano e do seu consumo de ovos e laticínios (que contêm B12). Nutrientes como ferro, zinco e ômega-3 devem ser enfatizados na dieta vegetariana. Caso fôssemos dar orientações para populações onívoras, deveríamos orientar o maior consumo de ferro, fibras, ácido fólico, assim como reduzir o consumo de proteínas e gorduras."

Ou seja, pelo que entendi, não é que as crianças vegetarianas em si ficam em grande desvantagem não. Na verdade, as onívoras (que também comem carne) também precisam tomar cuidado com certos nutrientes.

Abs,
Maurício Kanno

[Fico no aguardo de resposta da Isabel, minha querida nova colega biomédica. :) ]

[Foto: criança indiana de Mumbai comendo pão, do banco de dados da Wikimedia Commons: http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:Mumbai_baby_eating.jpg ]

domingo, 9 de setembro de 2007

Declaração Universal dos Direitos dos Animais

Art. 1º- Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência.

Art. 2º- O homem, como a espécie animal, não pode exterminar outros animais ou explorá-los violando este direito; tem obrigação de colocar os seus conhecimentos a serviço dos animais.

Art. 3º- 1) Todo animal tem direito a atenção, aos cuidados e a proteção dos homens.

2) Se a morte de um animal for necessária, deve ser instantânea, indolor e não geradora de angústia.

Art. 4º- 1) Todo animal pertencente a uma espécie selvagem tem direito a viver livre em seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático, e tem direito a reproduzir-se,

2) Toda privação de liberdade, mesmo se tiver fins educativos, é contrária a este direito.

Art. 5º- 1) Todo animal pertencente a uma espécie ambientada tradicionalmente na vizinhança do homem tem direito a viver e crescer no ritmo e nas condições de vida e liberdade que forem próprias da sua espécie;

2) Toda modificação desse ritmo ou dessas condições, que forem impostas pelo homem com fins mercantis, é contrária a este direito.

Art. 6º- 1) Todo animal escolhido pelo homem para companheiro tem direito a uma duração de vida correspondente á sua longevidade natural;

2) Abandonar um animal é ação cruel e degradante.

Art. 7º- Todo animal utilizado em trabalho tem direito à limitação razoável da duração e da intensidade desse trabalho, alimentação reparadora e repouso.

Art. 8º- 1) A experimentação animal que envolver sofrimento físico ou psicológico, é incompatível com os direitos do animal, quer se trate de experimentação médica, científica, comercial ou de qualquer outra modalidade;

2) As técnicas de substituição devem ser utilizadas e desenvolvidas.

Art. 9º- Se um animal for criado para alimentação, deve ser nutrido, abrigado, transportado e abatido sem que sofra ansiedade ou dor.

Art. 10º- 1) Nenhum animal deve ser explorado para divertimento do homem;

2) As exibições de animais e os espetáculos que os utilizam são incompatíveis com a dignidade do animal.

Art. 11º- Todo ato que implique a morte desnecessária de um animal constitui biocídio, isto é, crime contra a vida.

Art. 12º- 1) Todo ato que implique a morte de um grande número de animais selvagens, constitui genocídio, isto é, crime contra a espécie;

2) A poluição e a destruição do ambiente natural conduzem ao genocídio.

Art. 13º- 1) O animal morto deve ser tratado com respeito;

2) As cenas de violência contra os animais devem ser proibidas no cinema e na televisão, salvo se tiverem por finalidade evidenciar as ofensas aos direitos do animal.

Art.14º- 1) Os organismos de proteção e de salvaguarda dos animais devem ter representação em nível governamental;

2) Os direitos do animal devem ser defendidos por lei como os direitos humanos.

-------------------------------------------

A respeito do artigo 3o, item 2, sobre "morte necessária de animais": lembrar que não é necessário matar um animal para se alimentar, nem para obter sua pele para casacos, nem couro para sapatos; há outras opções, como a dieta vegetariana, e tecidos vegetais e sintéticos. Isso só se aplica quando o animal estiver sofrendo muito, como uma eutanásia; ou quando for em autodefesa.

Lembrar também: O ser humano também é um animal.

Fonte: site do Instituto Butantan, que fica na Cidade Universitária: http://www.butantan.gov.br/ceuaib/declaracao.htm

Legislação do Brasil: http://www.apasfa.org/leis/leis.shtml

sábado, 8 de setembro de 2007

E as plantas? Também não são seres vivos iguais a respeitar?

Texto do professor Gary Francione.

""E as plantas?” é uma das perguntas mais freqüentes que se fazem a um vegano [ou a um vegetariano]. Na verdade, não conheço nenhum vegano que não a tenha ouvido pelo menos uma única vez e a maioria de nós já ouviu esta pergunta várias vezes.

É evidente que quem costuma fazer esta pergunta sabe muito bem que existe uma diferença entre, digamos, uma galinha e um pé de alface. Ou seja, se no próximo jantar você cortar um pé de alface na frente dos seus convidados, eles reagirão de um modo totalmente diferente se você, ao invés disso, fatiar uma galinha viva na frente deles.

Diferenças por senso comum

Se, ao caminhar em seu jardim, eu pisar de propósito em uma flor, você terá toda razão em se zangar comigo, mas se eu chutar o seu cachorro de propósito, você ficará zangado comigo de uma maneira bem diferente. Ninguém considera estas duas ações equivalentes. Sabemos muito bem que existe uma grande diferença entre uma planta e um cachorro, o que faz com que chutar este último seja moralmente muito mais repreensível do que pisar em uma flor.

Consciência do que percebe

A diferença entre um animal e uma planta diz respeito à senciência. Ou seja, os animais não humanos, ou pelo menos aqueles que exploramos rotineiramente, sem dúvida são conscientes de sua percepção sensorial. Criaturas sencientes possuem mentes, logo têm preferências, desejos ou vontades. Isso não significa que as mentes dos animais não humanos sejam parecidas com as nossas. Por exemplo, a mente dos humanos, que fazem uso da linguagem simbólica para interagir com o seu mundo, pode ser bem diferente da mente dos morcegos, que se valem da ecolocalização para interagir com o seu mundo. É difícil saber com precisão.

Mas também é irrelevante, pois tanto os humanos quanto os morcegos são sencientes. Ambos são criaturas que possuem interesses, no sentido em que ambos têm preferências, desejos ou vontades. Um humano e um morcego podem pensar de um modo diferente sobre esses interesses, mas não pode haver a menor dúvida de que ambos possuem interesses, inclusive o interesse de evitar a dor e o sofrimento e o interesse de permanecerem vivos.

Plantas têm interesses ou necessidades?

Já as plantas são qualitativamente diferentes dos humanos e dos outros animais sencientes. Sem dúvida as plantas são seres vivos, mas não são sencientes, pois não possuem interesses. Uma planta não pode ter desejos, vontades ou preferências porque ela não possui uma mente para que possa se ocupar com estas atividades cognitivas. Quando dizemos que uma planta “precisa” ou “necessita” de um pouco de água, não estamos nos referindo ao seu status mental do mesmo modo que não estamos nos referindo à mente de um carro quando dizemos que o seu motor “precisa” ou “necessita” de um pouco de óleo. Trocar o óleo do meu carro pode ser do meu interesse, mas nunca do interesse do carro, pois este não tem interesses.

Uma planta pode reagir à luz do sol e a outros estímulos, mas isso não significa que ela seja senciente. Se eu descarregar uma corrente elétrica em um fio amarrado a um sino, o sino tocará. Mas isso não significa que o sino seja senciente. As plantas não possuem sistemas nervosos, receptores de benzodiazepina ou quaisquer características que estejam relacionadas à senciência. E tudo isso faz sentido do ponto de vista científico.

Reações naturais

Por que elas teriam a necessidade evolucionária de desenvolver a senciência se elas não podem fazer nada para reagir a um ato danoso? Se você atear fogo a uma planta, ela não poderá sair correndo, ela permanecerá no mesmo lugar até queimar. Agora se você atear fogo a um cachorro, ele reagirá exatamente da mesma forma como você reagiria: ele urrará de dor e tentará se livrar das chamas.

A senciência é uma característica que evoluiu em algumas criaturas para que elas pudessem ser capazes de sobreviver ao fugir de um estímulo nocivo. A senciência não teria nenhuma serventia para uma planta, pois elas não podem “fugir”.

Obrigações morais

Não estou querendo dizer com isso que não existe nenhuma obrigação moral de nossa parte referente às plantas, mas sim que não temos nenhuma obrigação moral para com as plantas. Ou seja, podemos ter a obrigação moral de não cortar uma árvore, mas esta é uma obrigação que não temos para com a árvore. Uma árvore não é o tipo de entidade com a qual nós podemos ter obrigações morais.

Podemos ter obrigações morais para com todas as criaturas sencientes que vivem em uma árvore ou dependem dela para a sua sobrevivência. Podemos ter obrigações morais para com os outros seres humanos e para com os outros animais não humanos que habitam o planeta no que se refere à não destruição de árvores a torto e a direito. Mas não podemos ter nenhuma obrigação moral para com uma árvore, pois só podemos ter obrigações morais para com criaturas sencientes e uma árvore não é nem senciente nem possui interesses, pois ela não tem preferências, vontades nem desejos.

Direitos das árvores

Uma árvore não é o tipo de entidade que se preocupa com o que fazemos com ela. Uma árvore é um “objeto”. Já o esquilo e os pássaros que vivem nela sem dúvida têm o interesse de que nós não a derrubemos, mas a árvore não. Pode ser moralmente repreensível derrubar uma árvore por capricho, mas este tipo de ação é qualitativamente diferente do ato de atirar em um cervo.

Quando se fala em “direitos” para as árvores, como querem alguns, procura-se igualar as árvores aos animais não humanos e este tipo de comparação só pode se dar em detrimento destes últimos.

Recursos naturais para serem usados?

De fato, é comum ouvir ambientalistas falar sobre a nossa responsabilidade na preservação de nossos recursos naturais, considerando inclusive os animais não humanos como um “recurso” a ser preservado. E isso é um grande problema para aqueles como nós que não consideram os animais não humanos como “recursos” destinados ao nosso uso. Árvores e outras plantas são recursos que podemos utilizar. Temos a obrigação de usar estes recursos com sabedoria, mas esta é uma obrigação que nós temos apenas para com as outras pessoas, sejam elas humanas ou não humanas.

E os insetos?

Para finalizar, existe uma variação da pergunta sobre as plantas: “e os insetos, eles são sencientes?” Até onde eu posso saber, ninguém ainda sabe com certeza. Mas certamente eu concedo aos insetos o benefício da dúvida. Eu não mato insetos em minha casa e procuro sempre evitar pisar em um deles quando caminho. No caso dos insetos, pode ser difícil traçar o limite, mas isso não significa que este limite não possa ser traçado com precisão na maioria dos casos. Matamos e comemos pelo menos dez bilhões de animais terrestres todos os anos apenas nos Estados Unidos.

Esta cifra não inclui todos os animais marinhos que matamos e comemos. Talvez possa haver alguma dúvida se animais como mariscos ou mexilhões sejam mesmo sencientes, mas sem dúvida todas as vacas, porcos, galinhas, perus, peixes, etc. são sencientes. Os animais não humanos dos quais tiramos o leite e os ovos sem dúvida são sencientes.

O fato de não sabermos ao certo se os insetos são sencientes não significa que devemos ter qualquer dúvida sobre o fato de que todos estes outros animais não humanos são sencientes, pois estamos absolutamente certos quanto a isso. E, ao dizer que o fato de que não estamos certos se os insetos são sencientes nos impede de avaliar a moralidade de se comer carne ou de usar produtos oriundos de animais não-humanos que sabemos sem sombra de dúvida serem sencientes ou de avaliar a moralidade de trazer estes animais não humanos à existência com o objetivo de usá-los como nossos “recursos” evidentemente é um absurdo."

Por Gary L. Francione

www.guiavegano.com/artigos/gary/faq.htm
Gary Francione é Distinguished Professor de Direito e o Katzenbach Scholar de Direito e Filosofia na Universidade de Rutgers, EUA. Seu último livro é o Introduction to Animal Rights: Your Child or the Dog? (Temple University Press, 2000). Publicou The Personhood of Animals, em maio de 2007, pela Columbia University Press. O Professor Francione também tem um excelente site, www.animal-law.org, que traz algumas apresentações em vídeo explicando sua filosofia em palavras e imagens.

Fonte intermediária: rede orkut, em http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=31732485&tid=2547213743831821955


(Fonte da imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Nasturcija1.jpeg )

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Mensagem ao SAC do McDonald's sobre Veggie Crispy


"Olá, tudo bem?

Gostaria inicialmente de parabenizar a rede McDonald's por oferecer o lanche Veggie Crispy, demonstrando respeito pelos vegetarianos e pela vida dos animais.

Fiquei um pouco desconfiado quando soube que o McDonald's estava oferecendo um lanche vegetariano. Perguntei aos funcionários (creio que da unidade próxima ao Sesc Pompéia, na Av. Matarazzo, e me disseram que não ia nada de carne, nada de origem animal). Então aceitei e fui comprar o lanche, que tem um gosto muito bom.

Mas hoje, via fóruns pela internet, li o relato de que: http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=115855&tid=2545887827299510248&na=3&nst=11&nid=115855-2545887827299510248-2545895687128740039

"O aroma de frango, questionado no e-mail, foi naturalmente obtido para tornar o Veggie Crispy mais apetitoso e encorpado."

Essa teria sido uma resposta do SAC da Rede McDonald's. Bem, mas se é um lanche veggie, de vegetariano, não é correto colocar nada de origem animal, ou seja, que implique matança de animais, correto? Ainda que, como diz outro cliente, de acordo com outra resposta do SAC:

"O aroma pode ser de origem vegetal ou animal. O índice é próximo a zero."

Não concordo com isso. Tenho consumido esse lanche no McDonald's nos últimos meses, e agora que descobri isso me sinto enganado. É perfeitamente possível elaborar lanches deliciosos com 0% de aroma e de morte animal. Vegetarianos não querem ser responsáveis por mortes deliberadas de animais.

Na apresentação do lanche, em http://www.mcdonalds.com.br/produtos/veggie_crispy.asp , o título-slogan do produto é "Uma ótima opção para vegetarianos". Mas, se há algo proveniente de frango, não é uma ótima opção para vegetarianos.

Novamente, parabenizo vocês por um lanche praticamente sem morte animal; mas se ainda há uma fração dela, por favor, solicito que a receita do Veggie Crispy seja levemente alterada, retirando-se o aroma natural de frango. Não há qualquer necessidade de aroma de frango em um lanche "veggie".

Quando isso for solucionado, eu voltarei a consumir o lanche de vocês.

Aguardo retorno,
Maurício Kanno"

------------------------------

Eu tenho comido esse lanche no McDonald's... Hoje mesmo fui comer lá, e finalmente minha esposa também me acompanhou com um Veggie. Não sabia bem dessa história de parte da receita incluir frango. Sabia que havia rumores, mas agora que li naquele tópico no orkut, da maneira detalhada, com respostas do SAC... agora ficou claro.

Não volto mais lá antes que essa receita seja mudada. Enviei uma solicitação ao McDonald's. Espero que seja possível confiar em eventuais mudanças.

Atenção ao detalhe: parabenizei a rede por incluir uma opção PRATICAMENTE vegetariana. Isso já é ótimo, e precisa ser estimulado. Com certeza, se maltrata muito menos os animais desta maneira.

No entanto, há ainda uma matança mínima, MAS DELIBERADA, ou seja, proposital, de animais, no caso, galinhas (frangos). Esse é o ponto.

------------

Tom Regan, no livro Jaulas Vazias, aponta que vegetarianos também não vivem sem causar algumas mortes animais. E por isso também não podem se vangloriar de serem assim tão "puros". Mas elas mortes não são deliberadas. Essa é a diferença.

Exemplos: Veja o algodão, por exemplo. Por causa dos produtos químicos que são aplicados ao algodão, levados pelas águas, matam peixes e outros animais. E ainda outros animais são mortos quando lavradores mecanizados preparam o solo para o plantio.

Quanto aos sapatos e cintos feitos com couro falso (sintético): são sub-produtos da indústria petroquímica. Isso significa derramamento de óleo, e números incontáveis de animais feridos e mortos.

Mais detalhes sobre a imagem dos defensores dos direitos animais em meu post: http://blog.kanno.com.br/2007/08/imagem-dos-defensores-dos-direitos.html

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Blogs educativos: faço parte?

Olá. Gostei muito da proposta dos Blogs Educativos: http://internetnaeducacao.blogspot.com/

Conheci por meio do blog http://historiadoensino.blogspot.com/ (da amiga e colega de lista de discussão sobre quadrinhos Natania Nogueira), do qual sou frequentador, apesar de nem tão assíduo.

Meu blog trabalha com questões ambientais e éticas, especialmente o vegetarianismo. Também é voltado para arte, especialmente a animação. Acredito que estas questões são importantes para a educação não formal, um grande foco de interesse meu. Já trabalhei e trabalho nessa área, do ensino não formal, como com o Programa AcessaSP e a ong Promove.

Será que pode também ser considerado como um "blog educativo"? É complicado se estabelecer o que é "educação" e quais são seus conteúdos dignos de serem "ensinados". Será que só é digno de ser considerado "educação" a educação formal, nas escolas; e com conteúdos dentro do establishment, aprovado pela maioria?

Meu blog não fala pela maioria; ele fala pelo que acredito, apesar de serem questões marginais, desconsideradas pela maioria.